patavinas

Às vezes é difícil decidir o que dói mais, escrever ou engolir as palavras. Deixar que elas entrem em contato com tudo que está dentro da gente, deixar que elas se percam num estômago faminto, num coração acelerado ou num fígado mal-humorado.

Tuesday, October 08, 2013

Salvem as baratas!


Durante as últimas décadas, acredito que todos os seres humanos se depararam com a súplica “ Salvem as baleias!”, todo mundo já viu aquelas imagens horrendas de um arpão sendo jogado na água, depois o sangue toma conta da água, o repórter faz uma voz embargada e informa que aquela era a última baleia branca de bolinhas pretas.

Nada tenho contra baleias, nem contra micos leões dourados, nem contra bicho nenhum, o que me intriga é a naturalidade com que aceitamos que certos animais nasceram pra virar comida, como bois e galinhas, e outros nasceram para serem preservados.

Não me venha falar em equilíbrio ambiental, eu sei, mas o que estou dizendo nada tem a ver com isso. Tem a ver com o fato de que na china, todo mundo acha normal comer um cachorro, aqui você seria quase um canibal.

Na Índia, é um absurdo consumir a carne da vaca, que é sagrada, aqui a gente comete um sacrilégio a cada churrasco de domingo.

No fundo, é tudo uma questão de cultura, ou da falta dela. Mas vou chegar logo ao ponto que me levou a lutar pelas baratas. Eu detesto ver animais sofrerem, reconheço minha máxima culpa cada vez que coloco um pedaço de salmão na boca, não fui eu quem matou, mas alguém matou porque gente que nem eu come, então também sou culpada.

Só um parêntese -( você já parou para pensar que os peixes morrem sufocados, asfixiados, como se de repente aparecesse alguém e enfiasse sua cabeça numa bacia de água até você parar de respirar?).

Não vou ficar explicando sobre cada morte animal, mas todas têm em comum a crueldade. Olha, eu não sou nenhuma Madre Teresa, há duas semanas assassinei covardemente um filhote de barata com um chinelo. Mas, desde então, veio a luz.

Costumamos classificar determinados bichos como pragas para justificar seu extermínio. As pragas transmitem doenças, essa é verdade inquestionável do mundo. Bom, os cachorros também transmitem doenças, os gatos, os cavalos. Inclusive, eu tenho absoluta certeza que já peguei mais doenças de homens do que de baratas, até porque não costumo me relacionar sexualmente com elas.

O assento do metrô transmite doenças, a porta do banheiro, você sabe que essa lista não tem fim. Por isso, nós, humanos, temos anticorpos, senão morreríamos cada vez que alguém espirrasse ao nosso lado. 

Sei o quanto isso parece loucura, mas acredito que tudo que tem vida tem alma, plantas, bichos, pensei ainda mais nisso depois do dia de São Francisco de Assis ( lembra de irmão sol, irmã lua?)

Não virei hippie (ainda), mas decidi solenemente que não vou mais matar nenhuma barata, não vou pisar em formigas (cara, sério, isso é tão brutal), controlarei firmemente minha repugnância a lesmas, jamais darei uma vassourada num rato. Ou seja, se depender de mim, a insetisan vai morrer de fome.

Nenhum desses bichos oferece perigo algum para mim, nunca fui ameaçada por uma barata, nenhum rato jamais abusou de mim, as formigas nem sabem que eu existo.

Você já reparou que o ser humano é o único animal que mata outro só porque está com nojo? Dá para imaginar uma onça destruindo um bambi e deixando ele pra lá, fazendo aquela cara de “odeio esses viadinhos”? É isso que a gente faz com uma barata, mata, faz cara de besta e segue a vida.

Alguém deve estar imaginando que minha casa deve ser um lixo completo, mas eu digo que não, aqui é um lugar onde há respeito, cada um na sua, a sujeira das “pragas” não está nelas, está no nosso esquisito pensamento.


E digo mais, um dia também vou parar de comer salmão!