Salvem as baratas!
Durante as últimas décadas,
acredito que todos os seres humanos se depararam com a súplica “ Salvem as
baleias!”, todo mundo já viu aquelas imagens horrendas de um arpão sendo jogado
na água, depois o sangue toma conta da água, o repórter faz uma voz embargada e
informa que aquela era a última baleia branca de bolinhas pretas.
Nada tenho contra baleias, nem
contra micos leões dourados, nem contra bicho nenhum, o que me intriga é a
naturalidade com que aceitamos que certos animais nasceram pra virar comida,
como bois e galinhas, e outros nasceram para serem preservados.
Não me venha falar em equilíbrio
ambiental, eu sei, mas o que estou dizendo nada tem a ver com isso. Tem a ver
com o fato de que na china, todo mundo acha normal comer um cachorro, aqui você
seria quase um canibal.
Na Índia, é um absurdo consumir a
carne da vaca, que é sagrada, aqui a gente comete um sacrilégio a cada
churrasco de domingo.
No fundo, é tudo uma questão de
cultura, ou da falta dela. Mas vou chegar logo ao ponto que me levou a lutar
pelas baratas. Eu detesto ver animais sofrerem, reconheço minha máxima culpa
cada vez que coloco um pedaço de salmão na boca, não fui eu quem matou, mas
alguém matou porque gente que nem eu come, então também sou culpada.
Só um parêntese -( você já parou
para pensar que os peixes morrem sufocados, asfixiados, como se de repente
aparecesse alguém e enfiasse sua cabeça numa bacia de água até você parar de
respirar?).
Não vou ficar explicando sobre
cada morte animal, mas todas têm em comum a crueldade. Olha, eu não sou nenhuma
Madre Teresa, há duas semanas assassinei covardemente um filhote de barata com
um chinelo. Mas, desde então, veio a luz.
Costumamos classificar
determinados bichos como pragas para justificar seu extermínio. As pragas
transmitem doenças, essa é verdade inquestionável do mundo. Bom, os cachorros
também transmitem doenças, os gatos, os cavalos. Inclusive, eu tenho absoluta
certeza que já peguei mais doenças de homens do que de baratas, até porque não
costumo me relacionar sexualmente com elas.
O assento do metrô transmite
doenças, a porta do banheiro, você sabe que essa lista não tem fim. Por isso,
nós, humanos, temos anticorpos, senão morreríamos cada vez que alguém espirrasse
ao nosso lado.
Sei o quanto isso parece loucura,
mas acredito que tudo que tem vida tem alma, plantas, bichos, pensei ainda mais
nisso depois do dia de São Francisco de Assis ( lembra de irmão sol, irmã lua?)
Não virei hippie (ainda), mas
decidi solenemente que não vou mais matar nenhuma barata, não vou pisar em
formigas (cara, sério, isso é tão brutal), controlarei firmemente minha
repugnância a lesmas, jamais darei uma vassourada num rato. Ou seja, se
depender de mim, a insetisan vai morrer de fome.
Nenhum desses bichos oferece
perigo algum para mim, nunca fui ameaçada por uma barata, nenhum rato jamais
abusou de mim, as formigas nem sabem que eu existo.
Você já reparou que o ser humano é
o único animal que mata outro só porque está com nojo? Dá para imaginar uma
onça destruindo um bambi e deixando ele pra lá, fazendo aquela cara de “odeio
esses viadinhos”? É isso que a gente faz com uma barata, mata, faz cara de
besta e segue a vida.
Alguém deve estar imaginando que
minha casa deve ser um lixo completo, mas eu digo que não, aqui é um lugar onde
há respeito, cada um na sua, a sujeira das “pragas” não está nelas, está no
nosso esquisito pensamento.
E digo mais, um dia também vou
parar de comer salmão!