patavinas

Às vezes é difícil decidir o que dói mais, escrever ou engolir as palavras. Deixar que elas entrem em contato com tudo que está dentro da gente, deixar que elas se percam num estômago faminto, num coração acelerado ou num fígado mal-humorado.

Tuesday, December 15, 2009

Falta de tempo

Em 36 anos uma pessoa pode fazer muita coisa. Há tempo suficiente para escrever algo de bom, ajudar pessoas, trabalhar, procriar, plantar árvores...porra são 36 anos!!
Mas, veja bem, desses 36, 7 ou 8 eu passei sem saber escrever suficientemente bem, depois tinham as provas na escola, eu precisava estudar química, fazer educação física e ainda conquistar meninos mais velhos de 14 anos, não dava tempo...
Depois, com 17, 18 anos, veio a faculdade, coisa difícil, séria, matérias pesadas, aprender a dirigir, se livrar das multas, sair à noite e ainda conquistar meninos mais velhos de 25 anos, não dava tempo...
Finalmente, chegaram os vinte e poucos anos, já formada, tinha que trabalhar e trabalhar em agência de propaganda, trabalhar que nem o cão, virar noite, criar títulos lindos, melódicos, fantásticos, para vender ofertas de supermercado, trabalho duro e ruim, precisava pensar na vida, mudar de emprego toda hora, refazer o portifólio, correr atrás daquela oportunidade quem sabe com quem e ainda conquistar caras mais velhos de 35 anos, porra, não dava tempo....
Aí veio a sonhada maturidade, a maturidade não é quem nem gravidez, ela não avisa quando chega, maturidade é que nem aquela visita que chega sem avisar na sua casa e quando você vê ela já está morando lá.
Num dia você tem um pensamento de velha, depois outro, depois uma atitude de velha, aí alguém te chama de senhora, você ri, outro dia, outro alguém faz o mesmo, você diz “me chama de você”, agora é a pessoa que pessoa ri, você diz foda-se, diz baixo, pra você mesmo, que você não tem mais idade pra mandar ninguém se fuder.
Aí é mudar de vida, encontrar um emprego que goste, começar tudo de novo, ser uma caloura velha na faculdade. Recomeçar para não se sentir velho ou só pra se sentir nova de novo? Sei lá, não tenho mais respostas, não tenho mais 18 anos. Tenho que cuidar da pele, do cabelo, das celulites, ler mais, ganhar dinheiro, ter paciência com os pais e ainda, pra completar, tenho que correr atrás, ou melhor, conquistar meninos de 20 e poucos anos. Aí você pensa: de novo? É de novo, bem novo, quanto mais novo melhor. E se Deus quiser, todo dia vai ser sempre assim.
Obrigada meu Deus, por tudo que eu fiz nesses 36 anos, ainda que isso tenha me impedido de fazer o que realmente deveria ter feito, porque valeu a pena.
Gisela Cesario