patavinas

Às vezes é difícil decidir o que dói mais, escrever ou engolir as palavras. Deixar que elas entrem em contato com tudo que está dentro da gente, deixar que elas se percam num estômago faminto, num coração acelerado ou num fígado mal-humorado.

Wednesday, January 26, 2011

Um dia

Um dia, entre hoje e o daqui a pouco, vai parar de chover e o blues vai silenciar.
Nesse dia, você vai dizer exatamente o que eu quero ouvir, vai tirar as palavras da minha boca pra colocar sua linda e deliciosa língua.
Vai estalar os dedos e a noite vai ficar cheia de estrelas, mesmo que esteja de dia.
Nesse dia, essa previsão será mais que realidade, será poesia.
Você finalmente vai entender que tudo que eu te disse até hoje só significa sim.
E eu vou perceber que o teu talvez era só daqui a pouco, um daqui a pouco que virou agora.
Agora você vai tirar a roupa, a sua e a minha, não necessariamente nessa ordem.
E vai me amar de um jeito que será desnecessário dizer que me ama.
Mas você vai dizer assim mesmo e vai repetir infinitamente.
E se o blues começar a tocar de novo, a gente vai escolher ficar sozinhos. Só que dessa vez um com o outro.
Nossos acordes serão de uma tristeza daquele que chora de rir.
Você vai mastigar minhas lágrimas e morder meu pescoço.
E eu vou matar o cantor de blues só pra ele nascer de novo e lamentar por ser ele e não nós.
Porque quando a gente estiver junto, vamos ouvir a tristeza, cantar a agonia, chorar os acordes, mas não vai dar parar de sentir a alegria.
Gisela Cesario