patavinas

Às vezes é difícil decidir o que dói mais, escrever ou engolir as palavras. Deixar que elas entrem em contato com tudo que está dentro da gente, deixar que elas se percam num estômago faminto, num coração acelerado ou num fígado mal-humorado.

Thursday, August 06, 2009

Problema seu

Quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha? Tostines vende mais porque está sempre fresquinho ou ao contrário? E os escritores? Eles escrevem porque são malucos ou ficam malucos porque escrevem? Inclusive, o que exatamente significa ser maluco ou ser escritor? O mundo é cheio de coisas duvidosas, mas na qualidade dos Postos Esso você pode confiar, diria um maluco, escritor, publicitário. A publicidade envenena um escritor como a prostituição faz com uma mulher bonita. Essa frase lamentável é minha. Mas não se preocupem, vou mudar de assunto. Não tenho paciência para falar de propaganda há séculos. O tema da redação de hoje é ( esse verbo concorda com o sujeito tema) pessoas que não respondem quando a gente cumprimenta. Explicito: Quantas vezes na sua nobre vida, você, querendo demonstrar ser um ser humano como outro qualquer, diz bom dia a alguém e simplesmente não recebe resposta alguma em troca. Caso concreto: você chega em casa depois de um dia horrível, em que você está com vontade de esganar o primeiro que buzinar no trânsito, mas, mesmo assim, você pensa, direi boa noite. E é isso que voe faz: Boa noite. Em resposta? Nada. Isso mesmo, amigos, nadica de nada. O cara, ou é surdo, ou finge que não ouviu. Outro dia pensei na solução ideal para isso. Eu desceria do carro, me transformaria num apresentador de auditório, estilo Raul Gil, e gritaria em alto e bom som: “ eu disse BOA NOITE!!!” E então, meu auditório, no caso, o porteiro, faria aquela cara de envergonhado e falaria meio cantando: Boa noite.... Bom, aí eu volto para o carro, grito um OBRIGADA! e pronto, meu dia fica muito melhor. Não é uma boa idéia? Isso também pode funcionar em elevadores lotados, quando você consegue se enfiar num lugar entre gordos e mochileiros e diz: bom dia. A resposta natural é foda-se, mas eles não tem coragem e simplesmente ficam calados. Então, novamente entra em cena, o super Raul Gil, você abre um sorriso de orelha a orelha, encara sua platéia e BERRA: EU não escutei! Eu disse BOM DIA PESSOAL! Claro que haveria o coro, nesse caso aí, mais de saco cheio do que envergonhado: Bom diaaa...Você pode pensar que ninguém responderia nada, que eles simplesmente achariam que você era doido, mas acredite, eles responderiam, meramente pelo inusitado da situação. As pessoas estão tão pouco preparadas para o não-óbvio que, se você parar no meio da rua, encarar alguém bem seriamente e disser: no chão, três abdominais, é capaz de o cara fazer, claro, se você for homem e tiver cara de militar. Então, como diriam meus paulistas amigos, é isso, meu, o inusitado da vida nos faz questionar coisas profundas (sem duplo sentido, please) e ver quão banais ou quão igualmente banais são nossas reais preocupações. Preocupe-se com um problema que não existe ou que não te preocupa e você verá que ele não é diferente dos outros problemas, aqueles que existem e te preocupam. Fui clara? Espero que não. Gosto de fazer as pessoas pensarem.
Gisela Cesario