patavinas

Às vezes é difícil decidir o que dói mais, escrever ou engolir as palavras. Deixar que elas entrem em contato com tudo que está dentro da gente, deixar que elas se percam num estômago faminto, num coração acelerado ou num fígado mal-humorado.

Saturday, November 24, 2007

montanha russa

“O amor não tem que ser uma história com princípio, meio e fim”.
Fábio Junior. ( antes dos seus mais de 10 casamentos)

A vida é feita de ciclos. Isso não é novidade. A própria vida é um ciclo, com princípio, meio e fim. Dentro do grande ciclo da vida, há milhares de outros e dentro desses milhões e milhões. Dez minutos na sala de espera do dentista é um ciclo que pode se iniciar com um súbito interesse numa manchete de uma revista de fofocas e terminar com a não menos súbita lembrança do pavoroso tratamento a ser enfrentado. Depois que a recepcionista te chama e diz que é sua vez, não há como continuar a ler a revista e fingir que você não está no dentista. Aquele momento, como todos que já foram, não volta mais. É mais fácil perceber um grande ciclo como a adolescência, que a gente não vê como nem quando termina, a gente de repente se dá conta que todas aquelas coisas maravilhosas e empolgantes são chatas e cansativas até pensar na célebre frase “não tenho mais idade pra isso”. Não adianta injetar botox, ter cara de 18 anos, seu coração é adulto, não bate mais por qualquer coisa, não está sujeito às mesmas emoções, boas ou ruins.
Da dura realidade dos ciclos, a mais dura é a realidade da morte, nossa única certeza da vida. Só que, ao admitir que esse grande ciclo da vida é feito de muitos outros temos que encarar várias mortes antes da nossa própria, não só mortes literais de amigos e parentes, mas mortes de sonhos, de projetos, esperanças e, claro, amores, pior, amores eternos. O pior num caso desses não é ter que recomeçar, é saber que um dia vai ter que reterminar. Porque tudo que começa termina. E tudo que recomeça retermina. E assim vai.
Mais um ciclo se fecha em minha vida, um dos melhores e piores como um bom emocionante ciclo deve ser. Agora estou no limbo, mas acho que limbo não é ciclo porque não é diferente no começo e no fim. Limbo é sempre igual até que o terremoto de o início de um ciclo termine com ele. O limbo é triste, me sinto do lado de fora de um bolha onde está rolando a maior festa. Todos vivem seus ciclos enquanto eu os observo do meu limbo. Uma grande imbecilidade quando a gente não consegue resistir ao limbo é tentar voltar a um ciclo já fechado. Em relacionamentos também se tenta colocar botox e fazer plástica de vez em quando, mas não adianta, um amor e uma bochecha de verdade são insubstituíveis. Adão e Eva depois de comerem a maçã fecharam um ciclo, o do paraíso. Daí em diante não adiantava mais fingirem que não estavam nus, que não tinham vergonha, eles sabiam. E quanto mais a gente sabe menos a gente quer. Você pode escolher a maneira que quer viver mas não pode escolher se vai dar certo ou errado e por quanto tempo. Por isso, o melhor é concentra-se no que a gente não sabe, no que (ainda) não deu errado. Consertar é quebrar duas vezes, ou três ou mil. Um brinquedo novo, do qual eu nada saiba, um truque de mágica que eu não tenha descoberto como foi feito, um ciclo que comece sem que eu perceba, sem que eu tenha consciência que ele terá meio e fim. Um paraíso onde eu não saiba que existe a maçã e que eu um dia a comerei. É disso que eu preciso agora. Ou talvez daqui a pouco. Agora é só o limbo. E paz pra saber que está tudo bem, o limbo também é necessário. Montanha russa sem fila não tem a menor graça.